Olhem para mim, tenho cara de Filipe.
Sim, sou minimalista. Só preciso de um nome, ainda por cima um nome próprio.
Sim, uso brilhantina. Tenho que aproveitar, enquanto o cabelo não me começa a fugir da cara, como aconteceu ao Caccioli.
Há quem me compare ao Mike Patton.
Mas Patton, só o General, porque "Faith no More" poderia ser o lema do Sporting, e não um nome de banda. Aquela cena da devoção, e o cacete, já deu o que tinha a dar.
Sim, sou minimalista. Ouço Kraftwerk. O pessoal não entende. O Patrick Asselman prefere ouvir Scooter e mete-se com os meus parcos centímetros. Sinceramente, acho que isso é bastante infantil. Estou acima dessas coisas. Uso brilhantina e gosto. Ouço Kraftwerk e tenho orgulho nisso. Não chego à prateleira de cima, mas tenho tudo o que preciso cá em baixo, tipo ketchup e graxa prós vitorinos de verniz.
Joguei no Chaves. Na verdade, acho que sou uma espécie de J'aime Cerqueira metrossexual.
Jogo no meio-campo, sou genial, todos os anos vou dar o salto, vou chegar à Selecção, não chego, lesiono-me, vou parar a clubes do meio da tabela e dou com a fronha no catano do Chaves.
Soa-me a J'aime Cerqueira. Se não depilasse a monocelha, até corria o risco de acabar a carreira a jogar a central no Aparecida Futebol Clube. Mas eu conheço-me.
Sou minimalista, uso brilhantinha, ouço Kraftwerk e vou pendurar as chuteiras num jogo de homenagem em San Siro, com 80 mil tiffosi do Inter a entoarem cânticos de "Filipe, il piccolo grande calciatore" com a melodia de "Trans-Europe Express".
Tenho confiança no meu futebol. Eu destroco futebol. Vejam o meu esgar de superioridade nas fotos. Sim, sou melhor que vocês. Acho que devo franzir as sobrancelhas, enrugar a testa. É o meu dever. Exprimir desconfiança perante o patético repórter fotográfico que se masturba mentalmente com a perspectiva de fotografar o próximo grande jogador do futebol Europeu.
Sou pequeno, mas sei onde quero chegar. Afinal, comecei a carreira a isolar o luso-beckham Rosário em frente aos desamparados keepers adversários. Tive o Margaça progenitor - estóico - a guardar-me as espaldas.
Quem nasce em berço de ouro, não se contenta com talheres de prata à refeição. Eu quero tudo. Quero desmarcar o Ouattara, quero driblar o Quintana, quero levar a multidão ao orgasmo colectivo, à mais profunda desilusão. Quero ousar aquilo que jamais J'aime Cerqueira ousou, quero pintar a mais bela obra de arte, quero re-esculpir o Colosso de Rodes com as minhas próprias mãos, a solo. O futebol não se irá esquecer de mim.
Eu uso brilhantina. Ouço Kraftwerk. Franzo as sobrancelhas, porque sou melhor que vocês.
Eu sou Filipe (e vocês não).
2 comentários:
O Mike Patton é parecido com uma série de gajos de futebol,nas suas vertentes FNM, Mr. Bungle, Fantômas, Tomahawk, Peeping Tom, Adult Themes For Voice, etc., etc.
Destrocar futebol parece-me bem.
Absolutamente genial!
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